Um dia antes de falecer, Machado de Assis
recebeu a visita do Barão do Rio Branco. O estado de saúde do escritor era
crítico, mesmo assim, ao ouvir ser anunciada a presença de pessoa tão ilustre,
ele se esforçou tremendamente para se sentar na cama a fim de melhor receber o
companheiro de academia. Segundo Francisca de Basto Cordeiro, que também se
encontrava presente, a cena gravou-se para sempre em sua memória. Com a face
iluminada por um resto de vida, Joaquim Maria estendeu seus braços para receber
um abraço fraternal, mas o barão esquivou-se, limitando-se apenas a lhe apertar
levemente a mão. Em seguida, muito constrangido, Rio Branco disse algumas palavras
breves:
“-
Então o que é isto, Machado? Está melhor, não é? Amanhã voltarei a vê-lo...”
Nem esperou pela resposta e retirou-se o mais rápido que pôde, fingindo
não ver a cadeira que trouxeram para ele se sentar ao lado do moribundo.
Machado de Assis caíra na cama, mortalmente ferido, humilhado, tendo sua
sensibilidade sido ofendida de maneira irreparável. O escritor virou-se para a
parede e mais nada falou, pois sua alma morrera naquele instante. Para
completar a humilhação, todos que se encontravam no quarto ainda puderam ouvir
o barão lavando as mãos num tanque que havia ali ao lado, como se temesse pegar
alguma doença contagiosa. Do corredor, alguém gritou solícito, procurando ser
gentil:
“- Uma
toalha limpa para o Barão!”
E
o escritor morreria na madrugada seguinte, desiludido com a vida e com os
homens.
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